quinta-feira, 8 de julho de 2010

Release: Milhouse - a Banda

O nerd é, antes de tudo, um forte. Espécie de vida que Frederico Di Giacomo (baixo, vocais e óculos de plástico) e Thiago Montanari (guitarra, vocais e camisas de bolinha) cultivavam quando criança em Penápolis e, do outro lado do estado de São Paulo, Ana Alice Gallo (bateria e chapéu roxo) também. Adolescentes curtidos no punk e no hard rock, nos quadrinhos e no videogame, saíram de suas cidades e descobriram que o grande mundo da universidade abriu as cabeças e também os corações pra coisas de suas terras que faziam mais falta do que imaginavam. Os causos que ouviam à beira da varanda, as referências musicais dos anos 80, por mais cafonas que parecessem, e todas as dores de serem eternos deslocados e realocados em espaços, culturas e épocas.


Trombaram-se todos em São Paulo, mais precisamente no ponto de ônibus em frente ao cemitério da Consolação, há três anos, juntamente com Gabriel Gianordoli (guitarra, vocais e camisa xadrez), que da sua terra capixaba trouxe a calma e uma incrível habilidade musical. Das mochilas saltaram as composições inusitadas de Fred e Titi; os arranjos e timbres refinados de Gabriel; e a bateria brava de Ana.

Pra rechear a festa, a Milhouse tira da cartola pérolas do rock como Cara Cool (“Esqueci o aniversário do Kurt Cobain/E das bandas da Inglaterra eu não conheço mais ninguém”) e Garota Vida Louca, o samba-loser Homens Brancos Não Sabem Dançar e a inclassificável Balada do Corno (“ Aposto que você deve ter chorado escondido/ não contado a história pros seus amigos/ Você não é o culpado”). Lamentam as agruras de um comparsa traidor em Tu Amigo e pedem perdão no groove canalha de Esqueça: “Esqueça se eu não estive por perto/ Só não esqueça nossa canção do Roberto”. Até mesmo o reggae ganha espaço em “No Meu Quarto”, paixão platônica revestida da libido que uma tela de computador pode trazer. E coroam sua origem com um gênero tão renegado quanto os garotos franzinos de óculos frente ao time de futebol, com o “Funk do Nerd”.


Testaram o repertório enfrentando os indies da rua Augusta. Sobreviveram e, desde então, descobriram que a boemia paulistana tem muitos timbres. As referências do punk fazem as cabeças roqueiras da Bela Vista pularem. O samba rock desajeitado entrou na cadência da Vila Madalena e os tranqüilos bares da Pompéia já caíram no encanto do que há de mais popular na Milhouse: uma vontade irresistível de rir de si mesmo. E se divertir.

Nenhum comentário: