Quando comecei a tocar, no alto dos meus 14 aninhos quase idos, meninas na bateria eram tão raras quanto calça de skate feminina (não existia, a gente usava as masculinas mesmo e parecia um saco de batatas). Hoje, com a volta da moda em torno da música, com meninas rockstars até no Brasil, eu realmente achava que essa “barreira” estivesse um tanto vencida. Vide a banda do Altas Horas, só de mulher, com a Vera Figueiredo, mor referência, e talz.
Eis que estou na situação 1, parada no balcão da loja de instrumentos, esperando alguém atender. Nada.
Vendedores passam de um lado pra outro e, em pleno sábado à tarde, devem achar que aquela menina está acompanhando o seu namorado e parou ali pra descansar.
- Oi, posso ajudar?
- Sim, estou procurando baquetas com aquela borracha que não deixa escorregar.
(o nome da borracha é grip mas, como é a única loja da rua que tem essa baqueta e todo mundo faz cara de surdo quando falo esse nome, decidi ser didática)
- Não existem baquetas com borracha na ponta, só nylon.
- Não nessa ponta, na outra, de segurar. Chama-se grip (eu perco a compostura)
- É pra você?
Suspiro. Não, querido, é pro espírito do Jonh Bonham, aqui ao lado.
- Sim.
- Você toca bateria???? – o sorriso do moço se alarga e ele deve suspeitar que meninas bateristas são fáceis de catar. Fecho a cara.
- Sim.
- Estão aqui. São 20 reais – o sorriso congela no rosto do moleque. O Coringa pareceria depressivo perto dele.
- Vou levar, você fecha o pedido? - continuo com uma cara de “eu não vou dar pra você, meu querido”.
Situação 2, alguns meses depois. Entro na mesma loja (é só lá que tem a tal baqueta), morrendo de pressa, e já suspiro. Um atendente sorri pra mim enquanto fala ao telefone.
- Oi, eu preciso de baquetas com grip.
- Baquetas com quê?
- Com grip, querido, aquela borracha pra segurar.
- Qual marca?
- Qual vocês têm? Costumo levar uma com borracha rosa.
- Ah, é Ibanez – ele quase soletra, didático.
- Ok, quero a sete com ponta de nylon.
– São pra você? – ele se assusta.
- Sim.
- Você toca bateria? – novamente a surpresa e o sorriso.
- Sim – novamente a cara de “não é porque eu toco bateria que eu vou dar pra você” – Você fecha o pedido, por favor? Já tenho cadastro.
O rapaz continua sorrindo enquanto acha meu cadastro. Eu realmente cogito jogar a baqueta nele enquanto olho pro relógio e estou mega atrasada.
Quando comecei a tocar, mesmo parecendo um saco de batatas enfiada em calças masculinas, dava pra xavecar um menino com esse papo de “olha, eu toco bateria”. Não sei se eu fiquei mais ranzinza ou se a galerinha do rock é que continua nessa mesma vibração de “menina não entra”.
Preguiça...
5 comentários:
Acho que depois que vc tem namorado, a única vantagem de ser menina e tocar bateria acaba...
ou não! afinal, consegui uma vaga na MIURRAUSE! : -)
onde eu assino?
tat, vc toca bateria?
eu toco, tá afim?! hehe
(gracinha!)
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